ADRIA NASCIMENTO, Pedagoga, Academica em Direito, Pós Graduada em Psicopedagogia. Diretora Social do PARAMAZONAS.
NOSSA FANTASIA
Finalmente, um governo brasileiro percebeu que deveria usar
parte dos R$ 5,6 bilhões anuais com publicidade para promover a leitura no
Brasil. É uma decisão louvável e gratificante ver estes anúncios nos intervalos
das novelas. Infelizmente, a propaganda não surtirá afeito para 14 milhões de
adultos analfabetos, vem para 35 milhões que, embora tenham a capacidade de ler
o título de um livro, não captam a mensagem.
Poucos dos autuais 55 milhões de alunos em escola básica vão
se dedicar à leitura no futuro, porque raros de transformarão em leitores se
não adquirirem esta aptidão na infância e na adolescência. E nossas escolas não
são criadoras de leitores.
É preciso elogiar a campanha do Ministério da Cultura, mas é
fundamental que o governo faça as ações necessárias para o Brasil em um país de
leitores.
O primeiro passo é a revolução da educação de base, que passa
pela qualidade dos professores e por melhores salários, melhor formação,
seleção rígida e avaliações constantes; pelas escolas com edificações bonitas,
confortáveis, bem equipadas e horário integral; é por métodos que incluam a
leitura como parte substancial do processo educativo. Tudo isso exige
responsabilidade federal com a educação básica.
Enquanto o Ministério da Cultura incentiva a leitura por meio
da publicidade, o MEC cuida das universidades federais e os municípios tem que
educar suas crianças com seus poucos recursos.
O segundo passo é erradicar o analfabetismo, não apenas entre
crianças e adolescentes com mais de seis anos, mas também os adultos. Raros
destes adultos alfabetizados se transformarão em leitores vorazes. E para
promover a leitura entre os filhos é necessário ter pais alfabetizados.
Terceiro, é preciso baratear os livros com incentivos às
editoras e às livrarias, pelo menos, iguais aqueles dados às industrias
automobilísticas; instalar bibliotecas, teatros e cinemas, pois tais atividades
culturais tem papel importante na promoção da leitura.
Finalmente, no campo da publicidade, mais eficiente do que as
mensagens nos intervalos comerciais, seria colocar a leitura dentro das
novelas. Haveria incentivo maior à leitura se nas cenas das novelas tivesse
estantes com livros; se os atores aparecessem lendo em várias cenas; e se um
jovem herói conseguisse impressionar as meninas graças à leitura e não à
musculatura. Tais cenas não são gravadas porque, para o público brasileiro,
pereceria exageradamente fantasioso: casa com livro, criança lendo.
Quando isso for feito, o Brasil não precisará de campanha
publicitária para promover a leitura. No entanto, reafirmo, sem o conjunto de
ações necessárias para mudar a educação de base, as mensagens publicitárias do
Ministério da Educação não surtirão efeito: será como fazer propaganda de carne
em um país de vegetarianos.
Fonte: (Senador Cristovam Buarque – Professor da UnB).
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