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terça-feira, 21 de julho de 2015

Será que o "Jeitinho Brasileiro" tem jeito ?

"A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa" (Jô Soares)

          O "jeito" ou "jeitinho" pode se referir a soluções que driblam normas, ou que criam artifícios de validade ética duvidável1. O jeitinho pode ser também definido como "molejo, jogo de cintura, habilidade de se dar bem em uma situação complicada" . Muitos consideram o jeitinho uma verdadeira qualidade do brasileiro, a qual demonstra criatividade e improvisação ao driblar normas e convenções sociais para encontrar alguma solução. Só que, ironicamente, ao resolver um problema, sempre cria outro. Mas como surgiu  o tal jeitinho ?
        Não é difícil imaginar as condições que o originaram se pararmos para analisar a falta de honestidade que a sociedade brasileira tem construído historicamente por meio de vínculos com o coronelismo, paternalismo ou pela troca de simples favores. No livro “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Hollanda afirma que o indivíduo brasileiro teria desenvolvido uma histórica propensão à informalidade. Deva-se isso ao fato de as instituições brasileiras terem sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo diálogo entre governantes e governados, mas apenas a imposição de uma lei e de uma ordem. Já o antropólogo Roberto Damatta, em sua obra "O Que Faz o Brasil, Brasil?" compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem permissividade alguma, e possuem franca influência na esfera dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-se que, lá, ou “pode”, ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que é possível um “pode-e-não-pode”, dependendo do "você sabe com quem está falando?" , se é que me entendem.

          O grande problema não é a existência do jeitinho como ponte negativa entre a lei e a pessoa "especial" que dela a livra. É a persistência de um estilo de lidar com a lei, que de certo forma induz o chefe, o diretor, o dono, o patrão, o governador, o presidente, a passar por cima desta como se o cargo, condições sócio-econômicas ou quaisquer outros pretextos os empossasse e lhes dessem plenos direitos para tal. O que faz com que a lei seja desmoralizada e quem a cumpre, estigmatizado como otário ou sub-cidadão.
          E sob a impunidade do jeitinho, pequenos e grandes delitos se misturam numa linha tênue, como se pudessem ser justificados de alguma forma. Coisas que alguns pensam ser pequenas, como a não devolução do troco, a ocupação do lugar reservado para idosos e deficientes, o ato de furar fila, a famosa “taxinha de urgência”, "agrado por fora”  ou " taxa de desembaraço" como já ouvi certa vez, até à compra do voto político, contribuem para a constante evolução da abominável corrupção. Então será que o jeitinho brasileiro pode ser considerado como uma forma de corrupção ? muitas das vezes, nossa visão de corrupção está fundamentada exclusivamente nos políticos, e não em nosso cotidiano onde perpassam nossas relações sociais. Dessa maneira, eu diria que o jeitinho se confunde com corrupção e é transgressão, porque ela desiguala o que deveria ser obrigatoriamente tratado com igualdade.         
          Vale ressaltar que hoje em dia o jeitinho não é mais um modo de agir exclusivo dos oprimidos, pois tem levado executivos estrangeiros que atuam em empresas no Brasil para as salas de treinamento. Não que eles queiram se adaptar a essa realidade. O que eles querem mesmo é entender e tentar driblar essa “malemolência” dos negócios no Brasil. Para esses profissionais, a melhor tradução para esse “jeitinho” é a falta de planejamento, o que significa conviver e trabalhar dentro da precariedade de muitos serviços públicos e sem uma infra-estrutura condizente com o potencial do país. Empresários europeus, japoneses e norte-americanos relatam estupefatos que precisam antes de fazer negócio, firmar laços de camaradagem, tornarem-se amigos do empresário brasileiro como condição sine qua non, para a realização do negócio, isso apressa as negociações. 
          Quer dizer, percebemos que problema não está na pessoa, mas nos processos que a envolvem. Se o problema fosse com 1 ou 1 dúzia de indivíduos poderíamos afirmar que seria um problema isolado; mas, quando um percentual alto é adepto do jeitinho, é sinal de que é preciso analisar o que permite esse desvio de comportamento. Só se dá um jeitinho quando existem brechas na lei ou falta de rigor na aplicação destas. Esses ato de se “ajeitar-as-coisas-para-se-dar-bem" simplesmente passa por cima de outros indivíduos e traz prejuízos à coletividade. É claro que ninguém quer obter desvantagens mas não podemos concordar que prevaleça a atuação do egoísmo e do individualismo. E o mais grave de tudo : justificar tudo como “criatividade brasileira”, e ainda aplaudir como sendo a cultura do nosso país. Desde quando malandragem é cultura ?
          As premissas que garantem a popularidade do jeitinho é que todos procuram levar vantagem em tudo que fazem no seu dia-a-dia, e que portanto, para não ser trapaceado, deve-se fazer o mesmo. Pensemos nos efeitos que esse círculo vicioso tem sobre nós, nossas finanças e nossas vidas. A impressão que nos dá é a de que determinados modelos de transgressões são aceitáveis e tornaram-se normais. Alguns devem lembrar de um comercial antigo no qual o ex-jogador de futebol Gérson aparece empunhando um cigarro e dizendo: "Este é pra você que gosta de levar vantagem em tudo, Cerrrto?" . Dando origem à famosa Lei de Gérson. E assim, parece que jeitinho se tornou norma de convivência na sociedade. Em outras palavras, a cultura de que “malandro é malandro e mané é mané”; isso não é motivo pra orgulho, muito menos deve incorporar-se à nossa cultura.
         E por fim, para não nos desanimarmos completamente,  lembremos então de casos que demonstram que nem tudo está perdido. Destaco a história do funcionário da Infraero que devolveu uma maleta com alguns milhares de dólares para o seu dono. Este fato mostra e comprova que há brasileiros honestos, pena que a maioria destes “Homens” não estão no poder! 
          Então existe saída ? Sim existem saídas : Precisamos ser e ensinarmos nossos filhos a serem cidadãos honrados e respeitadores das leis. É  preciso uma reflexão individual de como estamos construindo o que mais criticamos e acreditarmos na possibilidade de iniciarmos uma reconstrução da ética individual e nacional. Que tal começarmos a pensar nisso já para a próxima eleição? Não levemos para as urnas o “jeitinho brasileiro” e não votemos  no “menos pior”. Não adianta continuar a levar a vida de sempre, fingir que está tudo bem e repetir para si que político é tudo igual e não tem como mudar. Conscientize-se de que o problema também é seu! E meu também! É nosso! Tudo ficará mais fácil, é claro, quando a habilidade de solucionar problemas do jeitinho brasileiro seja direcionada de forma positiva e seja verdadeiramente uma virtude.
 Christiane Lima - Pedagoga e Assistente Social

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