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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dinheiro, Nossa Atual Devoção

Vivemos num tempo em que nossas únicas necessidades são as coisas desnecessárias.
Dinheiro, nossa atual devoção
É preciso gastar menos: estamos numa “economia de guerra”. Acabaram-se os nossos míseros reais. Nada de gastos com revistas e livros. Ideias novas são supérfluas, pois já temos as velhas que nos bastam. O nosso cérebro necessita apenas de glicose para manter-se vivo sem en­trar em coma, assim ele poderá assistir e apreciar essa tragicomédia econômica que ora nos apresenta.

Assistimos, impotentes, à ascensão ao poder de um novo grupo de profissionais, os economistas. Essa nova eli­te, ao tomar consciência do seu poder, passou a ditar nor­mas acerca de salários, empregos, horários e tudo mais. Por que não dizer, de nossas vidas?
Os sábios profetas da economia são muitos. Os jornais e as TVs divulgam a todo momento suas profecias e eles, sem nada cobrar, aconselham-nos a economizar mais, para o sucesso do modelo capitalista “trabalho e produção”. Os economistas conhecem melhor do que nós mesmos o que se deve fazer com o nosso dinheiro, como por exemplo: onde guardá-lo, quando tirá-lo, em que lugar devemos passar nossas férias e se devemos ir de avião, ônibus ou a pé a Itabira ou a Tóquio. Quando devemos nos aposentar ou resgatar o Pis e Pasep, a maneira de alugar um imóvel, quando vender ou comprar ouro e dólar e até se devemos abandonar a profissão de engenheiro, trocando-a pela de florista. Ninguém precisa pensar, menos ainda refletir, pois existem “gênios” que pensam por nós, todos especialistas nisso ou naquilo.
Vivemos a época de ouro da economia. A cada dia, ou talvez a cada hora, são entrevistados luminares nessa ciência e estes descrevem, cada um a seu modo, a situ­ação econômica do País, indicando, de maneira segura, o que deve ser feito para tirar-nos da miséria, da dívida e do caos.
Infelizmente, os ministros, assim como os ex-secre­tários de Estado, só conhecem as soluções econômicas adequadas para o País quando largam os cargos, nunca durante o exercício de suas atividades. Economistas diver­sos, candidatos a cargos no governo, professores, PhDs diversos e até alguns amadores iniciados no assunto criti­cam a política econômica com sabedoria.
O dinheiro agora é o nosso rei e talvez o nosso Deus, pois foi promovido pelos fabricantes da cultura, de “meio” a “fim”. O dinheiro que era um instrumento utilizado para se alcançar algum objetivo, tornou-se atual sistema de va­lores sociais, o próprio alvo a ser atingido.
Os subprodutos do dinheiro, como os salários, gastos, etc., comandam atualmente nossas ações e intenções. Nós nos preocupamos muito com o prejuízo financeiro de um acidente e pouco, ou quase nada, com o sofrimento das pessoas envolvidas. Mortes de indivíduos são analisadas muitas vezes com respeito ao seguro a ser recebido ou à economia ocorrida com sua morte. Algumas religiões são fundadas em busca de dinheiro, filhos matam os pais para receber a herança e alguns se suicidam porque suas fortu­nas estão se esvaindo. Assistimos a esse espetáculo com naturalidade, sem espantar-nos, pois estamos julgando os fatos com os mesmos modelos conceituais dos protagonis­tas das ações.
O valor instrumental do dinheiro está ganhando a luta contra todos os outros valores humanos. Poucos atualmen­te são capazes de apreciar outros valores - uma boa bebida ou comida, um passeio, uma visita - sem imaginar o custo em dinheiro de cada uma dessas ações. Talvez, pior ainda, a maioria das pessoas não consiga bater um bom papo ou amar alguém sem contabilizar os gastos ocorridos durante esse tempo e que poderiam ser convertidos em produção e dinheiro, como manda o modelo econômico vigente.
Prezado leitor, como psiquiatra que sou, tenho como obsessão a tendência a dar conselhos, e aqui aproveito a oportunidade para opinar contra os conselhos dados por alguns economistas.
1) Ao tomar o seu café sinta o seu paladar, calor e aroma e não pense no preço do pó, da água, da energia e da mão-de-obra.
2) Ao abraçar e beijar o seu amado, ao acariciar os seus cabelos, sinta as sensações provenientes do seu rosto, lábios ou das suas mãos e, pelo menos naquele instante, não pense no dinheiro que está sendo gasto com o batom que desaparece ou com o penteado desfeito, pois, caso tudo dê certo, o que é o esperado, você terá outros ganhos e prazeres, que são para alguns poucos seres humanos mais importantes que o dinheiro guardado no cofre.

Galeno Alvarenga - Psiquiatra

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