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segunda-feira, 29 de junho de 2015

PRECONCEITO:"... É que Narciso acha feio o que não é espelho"

“... Quando eu te encarei
Frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto o mau gosto
É que Narciso acha feio
o que não é espelho ...”
(Caetano Veloso)
      Existem diferentes versões sobre Narcisoou. O Auto-Admirador, personagem da mitologia Grega, mencionado na música de Caetano Veloso. Uma destas diz que este “era um rapaz muito bonito. Quando nasceu, seus pais perguntaram ao adivinho Tirésias qual seria o seu destino. A resposta foi que ele teria vidalonga desde que jamais contemplasse a própria figura. No entanto, por ser tão frívolo e indiferente ao amor, a deusa Némesis resolveu dar-lhe uma lição e o condenou a apaixonar-se pelo próprio reflexo na lagoa de Eco. Encantado pela sua própria beleza, Narciso deitou-se no banco do rio, olhando-se na água e se embelezando, e assim foi definhando permanecendo nessa posição até morrer.”

           Quem nunca pré-julgou alguém, alguma coisa ou algum lugar, que atire a primeira pedra. Quem nunca foi vitima de algum tipo de discriminação? Ainda assim o preconceito persiste e se enraíza cada vez mais. Da mesma forma como Narciso, muitas pessoas praticam o preconceito, quando percebem que o outro é diferente do seu modelo “ideal”, ou seja, de si próprio. Conscientes ou mesmo inconscientemente diante dessa percepção narcisista crêem cegamente que tudo que não corresponde à sua imagem é o próprio exemplo de "mau gosto", passando então a rejeitá-lo, tratá-lo com indiferença ou até mesmo odiá-lo.
          O dicionário Michaelis define preconceito como: “(1) Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados.(2) Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão...” Em outras palavras, podemos dizer que preconceito é um juízo preconcebido que leva alguns a sentirem-se superiores a outros, adotando comportamento intolerante, hostilidade ou desprezo, discriminando indivíduos ou grupos os quais considera diferentes ou estranhos.
           As formas mais comuns de preconceito são : social, racial, sexual e religioso. No entanto, é bem complicado falar sobre preconceitos e chegar a conclusões objetivas, pois muitos fatores o desencadeiam. Pode-se dizer que, geralmente o preconceito parte de uma generalização superficial, originada pela ignorância ou falta de conhecimento, ou seja, simplesmente cria-se uma espécie de aversão em relação a tudo que é diferente. Dessa forma, o preconceito leva à discriminação, gerando marginalização e violência. De qualquer maneira é prejudicial, leviano e irracional, pois representa o domínio da crendice sobre o saber, não possuindo bases nem argumentos que o sustentem (são estabelecidos unicamente nas aparências e na empatia). Contraditoriamente a essa lógica, é um dos erros mais arraigados, mascarados e perigosos de nossa sociedade atual.
          Crenças, maneira de vestir, condições socioeconômicas... As diferenças estão presentes em nosso dia-a-dia e nos fatos mais corriqueiros: em nosso ponto de vista, ideais, forma de pensar, idéias, nas impressões digitais. Rotular quem quer que seja é um ato cruel. Até onde vai a ignorância dos seres que se dizem humanos e civilizados? Diversas catástrofes e atos desumanos nasceram a partir de algum tipo de preconceito. Citamos, por exemplo, o Holocausto (especificamente o massacre dos judeus durante o regime nazista), a "Santa" Inquisição (composta por tribunais dedicados à supressão da heresia no seio da Igreja Católica Romana. Os condenados cumpriam as penas que podiam variar desde prisão temporária ou perpétua ou eram queimados vivos em plena praça pública).
         O Artigo 5º. da Constituição brasileira é o mais importante artigo de nossa Constituição, pois possui 78 dispositivos (incisos) e quatro parágrafos que garantem, aos cidadãos, as mesmas oportunidades na busca por uma vida mais digna aodeclarar oficialmente que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, sendo invioláveis o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Dessa forma, dentre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil está a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
          Infelizmente o preconceito está presente onde menos imaginamos e nem precisamos ir longe para encontrá-lo. Trata-se de uma opinião totalmente distorcida que estabelece diferença entre as pessoas, de forma pejorativa, sem qualquer coerência e por esse motivo nossa sociedade tem excluído muitos de nossos semelhantes por julgar simplesmente que estes não são tão “semelhantes” assim. O resultado dessa violência é que vítimas de atos discriminatórios sofrem com depressão, baixa auto-estima... Desenvolvem agressividade, dificuldades na aprendizagem etc.
            Não podemos continuar aceitando passivamente essa situação. Vamos firmar um compromisso pessoal e com nosso semelhante. O primeiro passo para essa mudança é repensarmos nossas atitudes de convivência, de relacionamento interpessoal. Vamos tentar ser mais tolerantes, aceitar as diferenças. Não basta apenas falar. É preciso agir. Nesse sentido, Norberto Bobbio (filósofo e jurista italiano (1909-2004) diz:“os preconceitos nascem na cabeça dos homens. Por isso, é preciso combatê-los na cabeça dos homens, isto é, com o desenvolvimento das consciências e, portanto, com a educação, mediante a luta incessante contra toda forma de sectarismo. Existem homens que se matam por uma partida de futebol. Onde nasce esta paixão senão na cabeça deles? Não é uma panacéia, mas creio que a democracia pode servir também para isto: a democracia vale dizer, uma sociedade em que as opiniões são livres e, portanto são forçadas a se chocar e, ao se chocarem, acabam por se depurar. Para se libertarem dos preconceitos, os homens precisam antes de tudo viver numa sociedade livre.” 
            Bobbio deixa claro que não existe nenhuma justificativa que apoie a ideia de que um determinado grupo de homens pode ser de alguma forma, superior a outro. No final das contas, o que todos nós precisamos mesmo é construir uma sociedade madura e justa, onde todos possam viver, indistintamente, com dignidade.
Christiane Lima- Assistente Social e Pedagoga.

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