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domingo, 23 de agosto de 2015

Os Narcisistas Modernos

“Qualquer que seja a forma com que a divindade se revele a nós, ainda que se apresente em pessoa, somos nós mesmos que precisamos julgar se nos é lícito ou não aceitá-la como Deus e adorá-la.”
Conta-nos o mito que quando a ninfa Eco, terrivel­mente apaixonada por Narciso, correu para junto dele para abraçá-lo, este, repelindo-a, lhe disse: “Afasta-te, prefiro morrer a te deixar possuir-me”. Narciso, tendo desprezado todas as ninfas como havia repelido a ninfa Eco, não ama­va ninguém. Porém, um dia, a deusa da vingança cedeu a um pedido de uma ninfa mal-amada fazendo com que Narciso se apaixonasse por si mesmo.

Narciso, uma vez sob o encanto da deusa, foi sedu­zido por sua própria beleza ao ver sua imagem refletida na água. Enfeitiçado, todas as vezes que Narciso tentava abraçar e beijar sua própria imagem, esta desaparecia na água. A lenda termina com a morte de Narciso consumido pela sua paixão.
Esta é a história do antigo Narciso. Os narcisistas mo­dernos agem diferentemente. Eles cresceram em número, tanto assim que a Classificação Internacional de Doenças Mentais (CID 10) reservou um lugar especial para eles: “Transtorno da Personalidade Narcisista”.
Veja como ele foi descrito no CID 10: “o indivíduo apresenta um sentimento grandiloquente de sua própria importância ou do seu caráter excepcional; preocupação com fantasias de êxito ilimitado; necessidade exibicionista de atenção e de admiração constantes; respostas caracte­rísticas às ameaças à sua autoestima; e perturbações no relacionamento interpessoal, como sentimento de “ter di­reito” a exploração inter-pessoal e ausência de empatia”.
O leitor atento identificará, entre amigos e inimigos, artistas, atletas, políticos e outros, os novos narcisistas.
As realizações dos narcisistas tendem a ser valoriza­das irrealisticamente nas áreas de poder, riqueza, fama e beleza. O narcisista tenta de fato alcançar tais objetivos, mas isso é feito de modo forçado e destituído de prazer, com uma ambição que não pode ser satisfeita. No Brasil eles são encontrados nas favelas, prisões, mansões e, com alguma frequência, nos palácios. A forma da expressão de orgulho por si mesmo é que varia de acordo com o grupo social ao qual o narcisista pertence.
A artista de TV narcisista, feia, inculta e arrogante, fala sobre sua beleza, de seus dotes literários, de suas idéias po­líticas e do seu comportamento sexual. Recebemos deles, gratuitamente, lições do seu modo particular de encarar a realidade, que é tida, orgulhosamente, como certa.
O narcisista supõe ser ele capaz de fazer e pensar adequadamente a respeito de tudo. Se ele foi bom letrista de música, poderá ser um bom ministro, se foi professor, poderá desempenhar bem o papel de governante, se é pi­loto, poderá ser bom garoto propaganda, se é político, lo­gicamente, poderá ser..., sei lá, qualquer coisa!
Na plateia, certo público cativo bate palmas, urra deslumbrado e entusiasmado com as proezas de seu ídolo. Entretanto, outros se irritam, xingam e jogam pedras ao se sentirem impotentes diante de seu poder.
A maioria, entediada, percebe a fragilidade do narci­sista escondida por trás de sua máscara arrogante e prepo­tente e, indiferente às suas palavras vazias, espera, alguns até oram, para que um dia cada narcisista siga o exemplo do antigo Narciso do mito e acabe consumido pela sua paixão e não mais tome nosso precioso tempo com suas chatices e gabarolices.
Galeno Alvarenga - Psiquiatra / Neurologista

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