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sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Crônica sobre pedofilia e redução da maioridade penal

- Rapaz, posso te contar um negócio? Excluí o Jair do Facebook.
- Você também?
- Ah, não dá. O Brasil nessa lama de corrupção e impunidade e ele vem com essa conversa de que não pode prender menor. Vá te catar.
- Quando finalmente o Brasil avança na política, esses caras dos direitos humanos vêm falar bobagem. Com a redução da maioridade, esses marginais vão dançar no miudinho. Acho que agora nossos filhos estão protegidos.
- Pois é. E ele fica com essa conversa mole de que o Estado não pode desistir dos moleques. Queria ver se um anjinho desses estuprasse a filha dele, o que ele ia dizer.
- Falar em filha dele...
- Rapaz, eu ia comentar agora. Quinze anos e já tá uma delicinha, não?
- Manda pra mim aquele vídeo dela dançando com as amiguinhas. Quero ver em casa com tempo, se é que você me entende.
- Mando. Mas só se você mandar aquele outro vídeo.
- Qual?
- Da sua vizinha.
- A novinha?
- Isso. Eu recebi, mas tive que apagar do zapzap porque a Dona Onça podia ver.
- Vou mandar no grupo dos vídeos caseiros, beleza?
- Beleza. Parece que ela não quer nem mais ir pra escola por causa dessa história, é verdade?
- Verdade. Eu não tô nem aí. Ninguém mandou vacilar.
- Depois não adianta dizer que estava bêbada, que confiou nos caras.
- Bom, se ela foi até o apartamento daqueles marmanjos é porque queria, né?
- E outra: quem mandou gravar? Era só não se expor.
- Mas hoje em dia tá assim, meu. Até marcha pra vadia tem. Poca vergonha. Rezar que é bom ninguém quer.
- Ninguém quer nada com nada, isso sim.
- Não dá pra saber o que essa molecada tem na cabeça.
- Não dá, rapaz. Nunca vamos entender.

Moral da história: os tiozões da crônica têm todo o direito de defender um país seguro para eles e seus filhos. Mas não adianta pensar que cadeia resolve qualquer problema quando não se compreende a natureza da violência. Essa violência é alimentada diariamente, por exemplo, por uma cultura que objetifica suas mulheres e naturaliza o assédio, a agressão, a quebra de privacidade. Objetificar é tirar da pessoa a humanidade. Muitas das vítimas (de abuso a exposição na rede, que aumenta conforme o número de compartilhamentos) têm menos de 18 anos, mas a solidariedade dos justiceiros só opera quando é o filho do pobre que apronta. Crimes sexuais, vale lembrar, não são praticados apenas por alienígenas morais. Estes “alienígenas”, que podem estar no quarto ao lado, são incentivados todos os dias em todos os lugares pelo discurso ouvido dentro de casa, nas escolas, nos programas de auditórios, na propaganda da TV.
Matheus Pichonellijornalista na Carta Capital.

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