Dra. Fabiane Araujo de Oliveira. Diretora Social da Associação Esportiva Paramazonas (ASSEP) e Policial Civil do Estado do Amazonas.
Em tempos de crise, temos a
oportunidade de reflexão, reconstrução, ressignificação. Mas tal capacidade só
é possível se conseguirmos superar a “self-deception” (mentir pra si mesmo) posta
por Morin.
Nestes, dias eu comecei a
refletir sobre a necessidade do enriquecimento do espírito, da necessidade dos
valores, da reforma de pensamento que possam trazer de volta a compreensão da
complexidade que gira em torno das múltiplas realidades, superando assim todas
as formas de reducionismo.
Tudo de repente parou diante
de um vírus que ameaça a vida. De repente chegou ao meu conhecimento um artigo:
“Coronavirus e a luta de classes” e fiquei refletindo como as premissas de um
pensamento binário (rico x pobre; preto x branco; homossexuais x
heterossexuais, etc..), o estímulo da luta, da briga, do fomento ao ódio, como
tudo isso levam a resultados de exclusão de pessoas, de vidas, de prioridades.
Como esse pensamento reduz o
ser humano e faz emanar dele o seu pior e levam a resultados desastrosos, na
educação, na economia, na saúde, na relação humana como um todo, na empatia que
poderia construir pontes, na cegueira de si, do outro, ou seja, na sociedade
como um todo.
Tal pensamento binário temos
vivido neste tempo de Pandemia tendo como resultado a politização do sentido da
vida! Produzindo uma nebulosidade de informações e reflexões. O Brasil é um
país continental, somos sabedores que o vírus não chegou nem em 20% do país.
Então por quê adoção de medidas iguais para realidades diferentes? Onde está o
equilíbrio, a etapa de procedimentos e cautela? Para quem deve ser a
quarentena? E de onde surgiu a hipocrisia de um pensamento de lockdown (para
tudo)?
Mas a quem beneficia a parada
de um país? Já que a vida de todos é importante, todos poderiam parar? Os
bombeiros, os policiais, os médicos, os enfermeiros, os padeiros, os
agricultores, os caminhoneiros, os frentistas, os caixas, as empregadas
doméstica, os atendentes, os entregadores, os pizzaiolos, os sushiman, os caras
da internet, o fornecimento de energia e a lista continua..
Vimos então a hipocrisia do
Lockdown e a necessidade de reflexão, planejamento, sobriedade, visto que o todos,
menos eu, é no mínimo estupidez. Como seria bom se “todos” pudessem ficar em
casa, com o seu sustento garantido.
E como ficam os 24, 4 milhões
de trabalhadores informais (Agencia Brasil)? E as micro e pequenas empresas que
representam, 99,1% segundo o Sebrae. Supere portanto, o pensamento binário e
simplista de luta de classes, comece a refletir sobre a complexidade entre as
dimensões que se retroagem.
Então voltemos para a premissa: Para quem deve
ser a quarentena?
O vírus está aí. Ele não vai
passar. Apenas 15 dias resolve? Há
séculos combatemos o bacilo da tuberculose. Então o quê acontece? Convivemos
com ele, o combatemos com higiene, cuidados, profilaxia, estudos químicos e
biológicos para encontrar a cura. É isso que há séculos temos feito, não apenas
por um período.
O mais contraditório de tudo
isso é testemunhar, o que a academia refuta tanto, mas adota em demasia,
intelectuais que respeito, com discursos que promovem o erro e a ilusão. Mas
qual motivação de tudo isso? Será o erro de percepção? O erro intelectual? Visto
que o conhecimento por meio de palavra, de ideia, de teoria, é o fruto de uma
tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte,
está sujeito ao erro. (MORIN,2011, p. 20) Ou será o caráter? Na academia temos
à disposição a análise de discurso e conteúdo, então porquê tantas distorções
nas oitivas?
Tudo isso só me leva a
refletir sobre o poder da empatia! O poder dos sentimentos! O poder de uma
paixão! O poder dos vícios, no sentido Aristotélico, da falta e do exagero que
impedem a virtude, o equilíbrio. Vemos uma geração de “Narcisos”, o que vale
sou eu...
Os meus votos vão para que superemos
tudo isso da melhor maneira possível, exercendo nossa cidadania, fazendo
pressão popular mesmo de casa pelas redes sociais! Que a reflexão para a tomada
de medidas possam realmente aceitar os diferentes! Que superem o discurso do
ódio camuflado de bem!
MORIN, E. Os sete saberes
necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez: Brasília, UNESCO, 2011
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