Drop Down MenusCSS Drop Down MenuPure CSS Dropdown Menu

terça-feira, 28 de julho de 2015

Morte dos Valores

A humanidade testemunha, neste início de século, uma triste transformação. No mundo inteiro, e também no Brasil, os
valores estão em estado terminal. O valor da honestidade desapareceu, substituído pelo reconhecimento da riqueza, que
atualmente é medida pela capacidade de produzir.
Já não são vistos como riqueza a cultura, o respeito, a religiosidade, o bem-estar. Um país cuja renda nacional seja
elevada, mas concentrada nas mãos de poucos, é considerado mais rico do que outro que tenha sua renda distribuída
com mais justiça.
Um país que derrube florestas para plantar soja é tido como mais rico do que outro que proteja sua natureza. Uma
sociedade que tolere o analfabetismo, a educação de má qualidade e a violência, mas que tenha renda per capita
elevada, é classificada como desenvolvida.
Está em estado terminal o próprio valor da palavra. O que vale é a aparência, não o real. O que importa é o que mostra
a publicidade, o que traz a televisão, e não aquilo que todos sabemos que de fato existe. Como diz o filósofo francês
Jean Baudrillard, a realidade é um simulacro, um espetáculo.
As guerras só são reais se forem transmitidas ao vivo pela televisão, têm causas e implicações controladas pelos
proprietários das grandes redes de comunicação, e por eles costumam ser moralmente justificadas.
O valor da sabedoria também está em crise. Foi substituído pelo valor da especialização, pelo domínio e utilização de
técnicas para enriquecimento próprio.
No mundo de hoje, por exemplo, Sócrates não seria considerado um sábio: não teve um ofício que o enriquecesse,
ensinou o que lhe parecia correto, e não o que tinha utilidade. Pior: morreu, porque não aceitou se corromper.
Está em estado terminal o valor da sensibilidade. No mundo em que vivemos e trabalhamos, não temos o direito de ter
sensibilidade.
A banalização da maldade nos torna frios, indiferentes, insensíveis. Os sensíveis são considerados fracos.
Vivemos ainda uma grave crise no valor da semelhança. A desigualdade reinante é tão grande que não se pode mais
afirmar que os seres humanos cultivam o valor de se sentirem semelhantes.
Quando observamos a diferença na qualidade de vida de crianças em países africanos e nos países europeus, ou de
crianças ricas e pobres nas várias regiões do Brasil, e olhamos o futuro que terá cada uma delas, podemos nos
perguntar se ainda existe o valor da semelhança entre a espécie humana.
Dependendo do poder aquisitivo, e do conseqüente acesso aos produtos da ciência e da tecnologia, alguns terão uma
vida mais longa e saudável, enquanto outros viverão menos e doentes.
Muito em breve, apenas poucos seres humanos vão se reconhecer como semelhantes e cultivarão um sentimento crescente de distância e dessemelhança com relação aos demais. O valor da semelhança da nossa espécie está em fase terminal.
Decididamente, nosso mundo vive a morte dos valores.

Cristovam Buarque- Senador da República

Nenhum comentário:

Postar um comentário